O que é agricultura regenerativa?
É uma pergunta que me fazem todas as semanas, tanto de outros investidores quanto de pessoas do mundo dos negócios. Muitas vezes, respondo com uma longa explicação sobre como melhorar a biologia do solo e trabalhar em parceria com a natureza — uma explicação que, frequentemente, soa abstrata demais para a maioria. Isso geralmente leva a uma segunda pergunta: Se não conseguirmos aumentar a produtividade com a ajuda de produtos químicos, como vamos alimentar o mundo?
A questão fundamental aqui não é exatamente o medo de como alimentaremos o mundo, mas sim o mito da produtividade — uma narrativa profundamente enraizada que nossa cultura ocidental moderna exportou para todos os cantos do planeta. Essa narrativa afirma que o progresso humano e a tecnologia nos permitem maximizar a produtividade indefinidamente. Ela está intrinsecamente ligada ao nosso mito de progresso e serve como base para nossa visão de mundo atual.
Deixe-me compartilhar minha história pessoal de produtividade. Vou começar há 10 anos — do topo, ou pelo menos do que eu, na casa dos 30, definia como o topo. Eu dirigia minha própria agência de marketing de eventos em ascensão e fui chamado ao palco para receber o Golden Alligator de Melhor Viagem de Incentivo de 2013 — um programa que havíamos criado e executado para um de nossos principais clientes corporativos na África. Finalmente, era o meu momento de herói. Um empreendedor de fora, sem experiência no setor, que havia começado uma empresa de viagens no seu quarto, estava agora, sete anos depois, no palco com seu novo sócio, recebendo o prêmio mais prestigioso do setor no Brasil. Mais uma daquelas histórias de trabalho árduo e máxima produtividade.
Meu segredo para o sucesso? Nunca me desfazer daquele aparelho estranho dos anos 2000 com nome de fruta e responder aos e-mails dos clientes em até uma hora, independentemente do fuso horário.
No dia seguinte, me vi em uma foto, erguendo orgulhosamente o troféu Golden Alligator em uma publicação de notícias do setor. Mas quem era aquele cara na foto? Mal o reconheci. Anos de estresse crônico e ansiedade por gerenciar eventos corporativos ao redor do mundo haviam cobrado seu preço. Eu estava cerca de 12 quilos mais pesado do que quando comecei, parecia 20 anos mais velho e vivia com calor e suando. Meus exames médicos ocidentais estavam ótimos, mas um médico chinês havia me diagnosticado algumas semanas antes como uma bomba-relógio. Faça-me algumas perguntas pessoais e você terá uma ideia completa da minha rápida degeneração: sono ruim, uma dieta composta principalmente de alimentos ultraprocessados — incluindo de 7 a 10 latas de Coca-Cola Zero por dia para me manter hiperprodutivo — e amenizada à noite com quase todos os dias canecas de cerveja ou taças de vinho.
Eu ainda corria quase diariamente, parte da minha rotina hiperprodutiva, mas as longas horas de eventos e o estresse do trabalho estavam me afetando muito. Algo mais estava acontecendo naquele mesmo ano: eu havia começado a meditar. Vinte minutos pela manhã, assim que acordava, e 20 minutos à noite, antes do happy hour.
Eu não conseguia dizer ao certo se estava funcionando, mas continuei tentando. Um breve espaço começou a se abrir, e a rotina frenética começou a fazer menos sentido — até que um dia, enquanto corria numa bela manhã em Helsinque entre eventos, tive uma profunda revelação. Eu precisava me livrar daquilo, custasse o que custasse, e me reencontrar antes que fosse tarde demais.
O caminho que trilhei nesses 10 anos não foi linear, de progresso constante, como nós, humanos, tanto apreciamos, mas sim uma estrada acidentada, repleta de experiências desconfortáveis e alegres, que não podem ser resumidas em uma receita para a cura pessoal. Exigiu o apoio do ecossistema ao meu redor em ações coletivas e a disciplina para retomar o rumo certo após cada passo em falso.
Dez anos depois, a vida é muito diferente. Meu trabalho agora tem um significado mais profundo, os 12 quilos extras desapareceram e me sinto mais conectada com a natureza. Não trabalho mais como escrava de um smartphone, pressionada ao limite pela minha autocrítica. No meu cargo atual, sou apoiada por uma comunidade inspiradora de investidores e empreendedores que lutam por mudanças sistêmicas. É como se minhas raízes estivessem plantadas em solo mais fértil, e a busca pela máxima produtividade para alimentar a validação externa não fosse mais relevante.
Minha alimentação melhorou, assim como a colônia de milhões de micróbios no meu microbioma intestinal. Caminho todos os dias como prova viva do poder da regeneração.
A armadilha da produtividade que definiu os primeiros 35 anos da minha vida não é diferente do que fazemos com as plantas na agricultura convencional. Cultivamos plantas para serem hiperprodutivas, alimentadas por insumos químicos em solos insalubres, sem o suporte de um ecossistema. Essas plantas podem produzir mais frutos, mas seus sistemas sobrecarregados são extremamente sensíveis a fatores externos. Isso não é diferente do trabalhador humano sobrecarregado que adoece ou entra em burnout.
Ao fazermos a transição da agricultura química hiperprodutiva para a agricultura regenerativa, respeitamos a natureza da planta. Permitimos que ela seja sustentada pelo ecossistema, possibilitando que produza frutos de qualidade dentro de sua capacidade natural. Em contrapartida, ganhamos resiliência, densidade de nutrientes e um sistema agrícola menos vulnerável às mudanças climáticas. O solo que sustenta a planta torna-se saudável e regenerado.
O bioma saudável do solo sustenta a planta de maneiras que estamos apenas começando a compreender. Agora sabemos que solos saudáveis estão conectados a um microbioma humano saudável, e essa saúde se espalha por toda a cadeia alimentar. Esta é a história da regeneração — uma narrativa que possibilitará o surgimento de um novo sistema alimentar.
Um sistema não construído sobre o mito da produtividade, mas sim sobre nutrição e resiliência. Uma história não sobre um herói individual lutando contra a natureza e todas as adversidades para alcançar a produtividade máxima, mas uma narrativa coletiva de simbiose e colaboração. Uma história onde humanos, natureza, microbiomas do solo e microbiomas intestinais estão todos interconectados. Uma história onde buscamos regenerar o solo que sustenta toda a vida e focar menos no indivíduo — não mais forçado a produzir mais como razão de ser.
