A pergunta mais frequente que recebo quando converso com investidores sobre agricultura regenerativa é como monitoramos a biodiversidade. Embora ainda haja pouco consenso sobre métodos e métricas que possam ser aplicados em diversas paisagens para gerar dados quantitativos relevantes que comprovem que as intervenções que estamos realizando estão no caminho certo, os dados recentes do monitoramento que a Luxor Agro, um de nossos principais investimentos no Brasil, está fazendo em nossas fazendas, trazem perspectivas promissoras.
Nas três fazendas em transição regenerativa, duas no estado de Mato Grosso aplicando manejo holístico de gado integrado com grãos e agrofloresta, e uma no estado de Minas Gerais fazendo a transição da monocultura para o cultivo agroflorestal de café, utilizamos bioacústica para gerar nossas métricas de biodiversidade de longo prazo. O primeiro conjunto de dados coletados já aponta para uma ferramenta e um método de monitoramento promissores.
Oito gravadores de som automáticos e sensíveis foram instalados em diferentes áreas de cada uma das três fazendas, representando diferentes estados ecológicos e usos da terra, desde áreas nativas protegidas até áreas em processo de renaturalização, sistemas agroflorestais e parcelas monoculturais convencionais.


As gravações focam-se em espécies de aves. Elas foram escolhidas devido à sua grande diversidade, sendo muitas delas muito sensíveis às paisagens agrícolas. As aves também respondem rapidamente às mudanças comportamentais decorrentes de alterações na paisagem, além de desempenharem um papel crucial na dispersão de sementes e na alimentação de insetos que chamamos de pragas, atuando no topo da cadeia alimentar no nível da propriedade rural.
As gravações foram coletadas durante cinco dias consecutivos, oito horas por dia, com os cientistas monitorando os horários de maior atividade das aves, no início da manhã e no final da tarde. Além de registrar a diversidade e a quantidade de espécies presentes em cada parcela, os cientistas também monitoram a dominância das espécies e o equilíbrio entre os indivíduos de cada espécie. Isso ajuda a identificar quando há um desequilíbrio no ecossistema, favorecendo algumas espécies e repelindo outras.

Aqui estão os principais resultados de nossas descobertas:
- Em nossa fazenda de café no estado de Minas Gerais, onde séculos atrás a Mata Atlântica foi derrubada para dar lugar a terras agrícolas, Encontramos 81 espécies diferentes de aves nas áreas da reserva natural. em nossa fazenda, enquanto nas áreas degradadas que estamos revitalizando para criar Nos corredores de biodiversidade, o número cai para 61. No Em áreas de agrofloresta cafeeiras, encontramos 62 espécies., um número muito maior do que nos campos onde ainda temos Café de monocultura, onde o número de espécies cai para 48.
- Nas duas operações de pecuária integrada com grãos e sistemas agroflorestais, os resultados seguiram uma tendência semelhante. Na fazenda onde desenvolvemos inicialmente o projeto Pasto Vivo e onde estamos mais avançados na transição, Começamos com 76 espécies nas áreas nativas, reduzindo para 73 nas áreas que estamos restaurando.A diferença entre pastagens agroflorestais e convencionais é semelhante à das plantações de café. 71 espécies em sistemas agroflorestais contra 49 em pastagens convencionais.
- Na fazenda maior, um dado atípico em nosso monitoramento mostrou a importância de uma abordagem paisagística para concentrar os esforços de restauração nas margens dos rios e lagos. Em uma dessas áreas ainda em No processo de restauração, foram encontradas 85 espécies. superando até mesmo a quantidade que encontramos no floresta nativa com 73 espécies.


Os dados obtidos por meio desse indicador simples também destacam a importância dos sistemas agroflorestais na criação de uma paisagem mais favorável para a proliferação de aves. Quando nossos campos se tornam mais amigáveis às aves, o controle natural de pragas começa a ocorrer e as sementes são dispersas pelos verdadeiros especialistas da natureza, o que pode acelerar os projetos de restauração.
A bioacústica, como ferramenta para monitorar a biodiversidade, fornece um importante indicador de quão atrativas nossas plantações são para diversas espécies de aves, o que contribui para o desenvolvimento do nosso ecossistema. Como os dados demonstram, as aves não apreciam monoculturas, que são ambientes férteis para insetos, protegidos de predadores. Tornar nossas plantações mais amigáveis e integradas às aves é crucial para o trabalho de regeneração. Além disso, permitir que espécies silvestres se movimentem entre as plantações é um importante serviço ecossistêmico para a conservação dessas espécies, reduzindo o isolamento das populações e prevenindo seu declínio.
No próximo exercício de monitoramento, solicitamos que os registradores sejam instalados também nos campos de monocultura de soja, onde sabemos que nossos dados sobre diversidade de espécies serão menores. No entanto, é importante esclarecer o verdadeiro impacto de cada uma de nossas zonas produtivas sobre a biodiversidade. Com dados precisos, fica mais fácil iniciar uma discussão sobre a necessidade de encontrarmos maneiras alternativas e sustentáveis de plantar e manejar nossas culturas.
A bioacústica, com o auxílio da IA, tem o potencial de se tornar menos dispendiosa, mais precisa e acessível a agricultores em todo o mundo. Mas já é uma realidade que, se seguirmos o canto dos pássaros, saberemos que estamos no caminho certo.